Para aliviar a alma e incrementar palavras...
Bem vindos ao delicioso Pudim de Letras, onde a receita é simples: Bom humor, criatividade, esperança e nem um pouquinho de preconceito.

18 junho, 2010

Ponto final.

Não é um texto bonito é somente a fuga de um sentimento quase inexplicável.

Em juízo, ouvi alguém se impor em minha defesa e vi as expressões de revolta no rosto da conciliadora, que provavelmente deve ser mãe como eu.

A pensão acordada nunca fará diferença nas nossas vidas – provavelmente na dele sim, já que sempre perde o melhor da festa – mas eu posso garantir que a partir de hoje o cidadão vai sentir um pouquinho-quase-nada da responsabilidade de trazer um filho ao mundo, passará noites insones preocupado em não ver o sol nascer quadrado e deixará de beber algumas cervejas para economizar e prover alimentos a quem ele ajudou a trazer ao mundo.

E o ponto final destina-se a essa angústia emocional a qual me causava e ao fim da minha ansiedade e do descaso.

Começamos a partir de agora uma vida nova, com a nossa justa verdade.

Sabemos que já foi feito tudo o que era alcançável e digno, e por isso seguimos colocando um ponto - ou uma pedra – no que só maltratou...
Deixamos lá atrás um sonho definitivamente perdido e lamento com frieza a provável rejeição, amargura e arrependimento que vivenciará o cidadão daqui a alguns anos a cada frase desumana por ele pronunciada.

Toquinho para embalar a trilha sonora do novo começo:

13 junho, 2010

Cansada.

Insuportável a Anna Júlia debochando das minhas broncas, cruzando os braços na altura do peito e fechando a cara quando ouve um não. Insuportável quando ela responde sem nem pensar duas vezes, quando esbraveja e bate a porta do quarto como se eu não fosse ninguém e ela a dona do mundo.
E para ela que já sofreu bastante, que já ficou sem me ter por perto e que mesmo com tão pouca idade já morou em três casas distintas, todo esse reflexo ainda é pouco!
Eu que estou cansada de perder a razão, a força e a coragem para educar e me sinto incapaz de ser mãe, de dar todo o amor que ela cobra. Estou cansada de sair da salinha da terapia sabendo bem aonde está o erro e de onde vem o erro e ainda assim não ter a menor coragem, paciência ou instinto para mudar.
Cansada de brigar para ir pro banho, para escovar os dentes, pentear os cabelos, usar roupa limpa, arrumar o quarto, fazer o dever de casa, ser simpática, educada, amigável, gente boa... Cansada de tentar fazer dela um ser humano correto, simples, normal.
E ai ao mesmo tempo em que minha cabeça ferve de emoções descontroladas eu acho ótimo ela ter iniciativa, lutar pelo que acredita e dizer o que pensa. Acho ela super inteligente quando de alguma forma finge que chora, faz drama e me convence com a cara mais lavada de que a partir daquele momento vai ser tudo diferente, que eu posso acreditar e dizer sim ao que eu vinha dizendo não. Na pior - ou melhor - das hopóteses ela sempre me convence e eu, mãe atrapalhada que já não gosta de ter trabalho e de ouvir criança chorando do lado, grito ao mundo: Simmm, pode!  
O que não pode ser normal é essa minha mania de querer desistir, pedir ajuda e me achar sozinha sempre que começa a apertar o calo... sempre que ela cresce diante de mim e me intimida, fazendo eu me achar a criatura mais fraca do planeta.
Não sei o que ela vai se tornar. Não sei o que vai ser a partir da "educação" que eu tento dar... sei que sozinha eu não consigo mesmo, que para mim é completamente surreal ser mãe na hora do vamos ver. Digamos que eu gosto e prefiro muito mais só a parte boa e que eu viveria feliz só brincando de boneca.
Mas essa não é a minha realidade.
A realidade grita a minha frente, grita quando o furacão passa no quarto só para eu prestar atenção, grita quando escreve um bilhete depois de uma briga e coloca debaixo da porta do meu quarto e o grito não correspondido berra diarimente pedindo atenção, respeito e amor. O problema é que nem eu sei o que é isso...
Então nessa ousadia e incansável busca para ser motivo de orgulho para mim - e que é sim, mas eu não consigo demonstrar com afetos - é que ela hoje vai participar de um sarau e recitar uma de suas poesias. E aí quem grita sou eu! Grito com o peito aberto que a Anna Julia embora seja repleta de defeitos e talvez não seja nunca a filha perfeita que eu idealizo (graças a Deus!) ela no auge dos seus dez anos, já faz alguma diferença, sabe? Que eu estou cansada mesmo, mas ela sorrateiramente muda um pouco do sentimento e de alguma forma vem monstrando para a minha cabeça maluca que eu posso não ser a melhor mãe do mundo, que eu posso ser fria, rígida, chata e que talvez eu também nunca seja uma mãe perfeita (que pena!), mas o que eu consegui ensinar de melhor eu posso ver todos os dias... é o interesse pelos livros, música, conhecer pessoas, saber conversar e se comportar num ambiente desconhecido.
Talvez nós nunca saberemos o que é ser filha ou o que é ser mãe, mas buscar o que existe de melhor no íntimo de uma ou outra já aprendemos e para alguns essa pode ser a pior parte... Então respiro aliviada porque essa sintonia já alcançamos.