Para aliviar a alma e incrementar palavras...
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13 junho, 2010

Cansada.

Insuportável a Anna Júlia debochando das minhas broncas, cruzando os braços na altura do peito e fechando a cara quando ouve um não. Insuportável quando ela responde sem nem pensar duas vezes, quando esbraveja e bate a porta do quarto como se eu não fosse ninguém e ela a dona do mundo.
E para ela que já sofreu bastante, que já ficou sem me ter por perto e que mesmo com tão pouca idade já morou em três casas distintas, todo esse reflexo ainda é pouco!
Eu que estou cansada de perder a razão, a força e a coragem para educar e me sinto incapaz de ser mãe, de dar todo o amor que ela cobra. Estou cansada de sair da salinha da terapia sabendo bem aonde está o erro e de onde vem o erro e ainda assim não ter a menor coragem, paciência ou instinto para mudar.
Cansada de brigar para ir pro banho, para escovar os dentes, pentear os cabelos, usar roupa limpa, arrumar o quarto, fazer o dever de casa, ser simpática, educada, amigável, gente boa... Cansada de tentar fazer dela um ser humano correto, simples, normal.
E ai ao mesmo tempo em que minha cabeça ferve de emoções descontroladas eu acho ótimo ela ter iniciativa, lutar pelo que acredita e dizer o que pensa. Acho ela super inteligente quando de alguma forma finge que chora, faz drama e me convence com a cara mais lavada de que a partir daquele momento vai ser tudo diferente, que eu posso acreditar e dizer sim ao que eu vinha dizendo não. Na pior - ou melhor - das hopóteses ela sempre me convence e eu, mãe atrapalhada que já não gosta de ter trabalho e de ouvir criança chorando do lado, grito ao mundo: Simmm, pode!  
O que não pode ser normal é essa minha mania de querer desistir, pedir ajuda e me achar sozinha sempre que começa a apertar o calo... sempre que ela cresce diante de mim e me intimida, fazendo eu me achar a criatura mais fraca do planeta.
Não sei o que ela vai se tornar. Não sei o que vai ser a partir da "educação" que eu tento dar... sei que sozinha eu não consigo mesmo, que para mim é completamente surreal ser mãe na hora do vamos ver. Digamos que eu gosto e prefiro muito mais só a parte boa e que eu viveria feliz só brincando de boneca.
Mas essa não é a minha realidade.
A realidade grita a minha frente, grita quando o furacão passa no quarto só para eu prestar atenção, grita quando escreve um bilhete depois de uma briga e coloca debaixo da porta do meu quarto e o grito não correspondido berra diarimente pedindo atenção, respeito e amor. O problema é que nem eu sei o que é isso...
Então nessa ousadia e incansável busca para ser motivo de orgulho para mim - e que é sim, mas eu não consigo demonstrar com afetos - é que ela hoje vai participar de um sarau e recitar uma de suas poesias. E aí quem grita sou eu! Grito com o peito aberto que a Anna Julia embora seja repleta de defeitos e talvez não seja nunca a filha perfeita que eu idealizo (graças a Deus!) ela no auge dos seus dez anos, já faz alguma diferença, sabe? Que eu estou cansada mesmo, mas ela sorrateiramente muda um pouco do sentimento e de alguma forma vem monstrando para a minha cabeça maluca que eu posso não ser a melhor mãe do mundo, que eu posso ser fria, rígida, chata e que talvez eu também nunca seja uma mãe perfeita (que pena!), mas o que eu consegui ensinar de melhor eu posso ver todos os dias... é o interesse pelos livros, música, conhecer pessoas, saber conversar e se comportar num ambiente desconhecido.
Talvez nós nunca saberemos o que é ser filha ou o que é ser mãe, mas buscar o que existe de melhor no íntimo de uma ou outra já aprendemos e para alguns essa pode ser a pior parte... Então respiro aliviada porque essa sintonia já alcançamos.

3 comentários:

R.C. disse...

Hoje a minha melhor amiga, sem dúvida, é a minha mãe.
Ela me teve assim, novinha como você, e teve de aprender a ser gente grande e me ensinar a ser gente, tudo junto.
Mas eu, na minha condição de filha, perdi as contas de quantas vezes me enfureci com minha mãe, de quantas vezes a ofendi, a fiz chorar. E ela, na condição de mãe, sempre me perdoou, sempre temendo não conseguir me transformar em alguém dócil.
Mas eu cresci e fui tomando a consciência do que é ser amigo ou não, do que é respeitar ou não, e hoje eu vou pro bar com meus pais e meu marido, confidencio segredos a ela e vice-versa.
Sabe, cansar é normal, humano, e a recompensa do que vem no futuro... nada compra, ninguém vende.

Saudade.

Carol Rocha disse...

Você sabe o que é ser filha. Pode não ter certeza do que é ser a boa mãe que vc cismou que existe. Qualquer filha (hj em dia cd vez mais cedo) vai bater a porta, cruzar os braços e debochar de uma ordem contrária a sua vontade. Seja a mãe que vc gostaria de ter tido e a parte boa da que teve. Acertar é bem difícil, mas tentar outra vez é sempre possível!

Paulo Tamburro disse...

NUBIA.

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